Eu quis então ter um olhar pra mim. Não alguém pra chamar de meu, como diz o clichê, como grita a conveniência, mas um olhar que fosse meu por puro encaixe. Foi um pouco de inveja, talvez. Eu soube naquelas duas pessoas que elas não se sentiam sozinhas ou perdidas. Que mesmo depois de um dia cheio e chato, tinham uma certeza de carinho. E eu quis. Quis algo além da rotina do trabalho e gente fabricada com seus narizes perfeitos e cabelos penteados. Quis algo certo como o frio na barriga e a respiração travada, o coração esquecendo de bater. Quis algo errado que me fizesse bem só por escapar do caminho óbvio de toda noite. Uma espera no fim do dia, sabe? Essa espera. Não a espera de uma vida toda sem saber o que buscar pra ser feliz. Só sair do dia igual pra ter uma noite diferente. E tornar esse diferente comum só porque é bom estar perto.
Eu não quero viver como se sobrevivesse a cada dia que passo sozinha. Não quero
andar como se procurasse meu complemento em cada olhar vago. Eu acho que mereço
mais que isso por tudo o que eu sei que posso fazer por alguém. E fico só
esperando, na surpresa do dia que eu desencanar de esperar, um par de olhos que
me faça ficar sem nenhuma palavra, nada além de dois olhos se enlaçando quatro.
Nessa multidão de amores, sozinho é aquele que não espera.
- Verônica Heiss
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